domingo, 6 de maio de 2012

Tirando de baixo do tapete

Achei um exemplar da revista TPM com a Fernanda Torres na capa esquecido pelo meu primo dentro de uma mala de viagens e ao ler a entrevista com a atriz da capa me deparei com a seguinte frase "... é incompreensível a pessoa não existir mais, não se encontrar em nenhum lugar físico." se referindo ao pai, o ator Fernando Torres, morto em 2008.

Isso me fez parar para pensar na questão da morte, assunto delicado e empurrado para baixo do tapete por muitos de nós sendo que mais natural do que morrer é nascer! Até por que, lógica e óbviamente, não há como fazer o primeiro citado sem ter feito o segundo!
 
E após matutar um pouco resolvi colocar aqui minha não concordância com a excelente atriz nesta questão. Diferente dela acho extremamente compreensível, assim como natural, que as pessoas morram e não as encontremos mais em uma esquina qualquer ou no quarto no final do corredor para bater um papo e, a grande sacada para não aceitarmos tão facilmente isso está em três pontos da nossa criação: o medo da mudança, o medo do desconhecido e o egoísmo!

Veja bem: se fossemos cem por cento adeptos as mudanças em nossas vidas e não ligássemos quando, sem mais nem menos, alguém mexesse no nosso queijo, não ligaríamos de alguém ser subtraído fisicamente de nossa vida. Se soubéssemos o que ocorre no pós-morte estaríamos tranquilos por que saberíamos para onde leva a estrada da vida. E por último, mas não menos importante, se não fossemos egoístas (acho esse o principal ponto) ficaríamos sossegadissimos, pois independente do que ocorra ou a pessoa está melhor que nós seja no céu, no paraíso, no Nosso Lar ou então está onde merece seja no inferno, no Umbral ou melhor ainda dormindo esperando o julgamento final que talvez um dia ocorrerá!

Nesse momento você deve estar pensando que é impossível uma pessoa ser tão insensível ou lidar tão bem assim com a morte, passagem, desencarne ou xpto, mas lhe confesso que sofro também com a partida de qualquer pessoa, mas reconheço que sofro por egoísmo. Pela falta que aquela pessoa vai me fazer, principalmente por que somos seres extremamente adaptáveis, ou seja, ninguém morre por conta da morte alheia, pelo menos desconheço qualquer caso ocorrido na história da medicina.

Mas voltando a defesa de minha ideia: acredito que soframos - perceba que me inclui - pois realmente sentimos falta da pessoa que partiu e essa falta ocorre nas pequenas e grandes coisas: a comida que só ela sabia fazer, o barulho de prazer quando bebericava a caipirinha, a dancinha com a música, o carinho, a vontade dessa pessoa acompanhar suas conquistas e vitórias e te ajudar a erguer quando houver derrota. Mas perceba que todos os exemplos são sempre para nós. Só pensamos no outro que partiu quando aparece o medo do que há no depois de 'bater as botas'.

Não tenho medo de morrer e nem da morte alheia. Meu único receio é sofrer para morrer ou 'ir dessa para uma melhor' sem ter feito coisas que eu tenho vontade. Inclusive outro dia ouvi uma frase ótima que é: um dia vou morrer de tanto viver. E a achei fantástica por que realmente as pessoas deveriam morrer de tanto viver! Deveriam utilizar esse medo da morte para aproveitar cada vez mais a vida para que em seu leito de morte as partes do "devia/queria ter (...)" da música Epitáfio dos Titãs fossem substituídas pelo pronome 'eu' + o verbo no pretérito perfeito do indicativo. Seria perfeito e as coisas naturais muito mais naturais!


Bjs e/ou [ ]'s

 
Para você que não lembra a música dos Titãs fica o link:

http://www.youtube.com/watch?v=JdwSveD0m_o


4 comentários:

Sü Venâncio ;) disse...

Ao ler o seu post me emocionei muito, concordo com tudo e acredito que eh um assunto bem delicado, mas que é inevitavel, sds, bjos Sueli

Ewerton Teixeira disse...

Nossa vi, gostei muito do que li. Muito legal o jeito como vc aborda a morte, eu particularmente tenho muita dificuldade para lidar com o luto, mas gosto muito do assunto. Tem uma coisa muito legal sobre o luto em relação a perda do filho, principalmente pelo idoso. Quando um pai enterra o filho, o processo de luto em grande parte dos casos é patológico. O pai vê injustiça na vida."Não é justo enterrarmos um filho que viveu menos que a gente. Será que alguma coisa saiu errado?" O luto em parceiros idosos também é um mundo a parte e precisa de um acompanhamento de perto da família, já que o idoso geralmente tem uma grande perda nas suas redes sociais durante a vida. Enfim, adorei o tema e adorei o texto. Muito bom. Parabénsne

Edson Marques disse...

Meu aplauso!

Ed Soares disse...

Acho que tão ruim quanto é quando alguém lhe subtraído fisicamente ainda vivo. você o pode ver em qualquer esquina mas não poderá ter novamente o que teve, fica só a vontade ou o desejo do que não foi. Iso também é egoísmo pois não se pensa muito que se a pessoa saiu de sua vida teve um motivo, e então ela tbm foi egoísta pois não pensou muito em você.....rs, que bando de egoístas kkkk Mas....o ser humano vem com um plus de fábrica que é resiliência, às vezes demora um pouco mas sempre superamos.